sexta-feira, 15 de outubro de 2010

CINEMA – TROPA DE ELITE 2


Que a qualidade do cinema nacional melhorou bastante dos anos 1990 pra cá, já sabemos, mas para exterminar qualquer dúvida explodiu em nossas telonas Tropa de Elite 2 - que pode ser considerado o melhor filme tupiniquim de todos os tempos e de encher de orgulho todos os brasileiros que - por outro lado - poderão ficar com nojo dos governantes e boa porte dos policiais do País.

O filme é ótimo não somente pela coragem de denunciar governo, milícias, mídia, mostrando a realidade do Rio de Janeiro que se estende a todo Brasil, mas também pela super produção com cenas de ação tão realistas e dinâmicas jamais antes realizadas por cineastas nacionais. O aguardado Carandiru (2002), baseado no livro de Dráuzio Varella (Estação Carandiru), não teve a mesma coragem, se resumindo em contador dos ‘causos’ de alguns detentos. Tropa de Elite 2, com roteiro de Bráulio Mantovani e José Padilha (também na direção), bate no peito e chama pra briga sem medo, logo no início, com cenas tensas e realistas de uma rebelião em Bangu 1 e o governador do Rio de Janeiro fingindo impedir muitas mortes para não repetir o ocorrido no extinto Carandiru – episódio que ficou marcado na história do País como Massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 homens foram mortos (e muita gente desconfia que o número ultrapassou a esse divulgado oficialmente). Isso tudo e muito mais o filme Carandiru nem sequer encaixou em uma cena ou texto.

Wagner Moura, agora como Coronel, mantém a intensidade da linha ríspida do Capitão Nascimento em Tropa 1 e prova ser um dos melhores atores da atualidade sabendo equilibrar a emoção nas demais nuances, sendo pai, trabalhador, um ser solitário, lutando contra o sistema ao qual – com muita decepção e a duras penas - ele percebe que também pertence. No Tropa 2 Wagner continua com as narrações em off, alinhavando a trama e fisgando o espectador para ser seu cúmplice - sem escorregar no erro de muitas películas que tentam explicar o que o espectador assiste (bem irritante por sinal).

Outro destaque no elenco é Sandro Rocha, que num passado não muito distante atuava como palhaço Ronald McDonald em eventos promocionais da conhecida rede de lanchonetes. Sandro, que tinha conseguido uma ponta no primeiro filme e ficou conhecido pela frase “quem quer rir, tem que fazer rir”, ganhou mais espaço e mostrou a que veio no Tropa 2, interpretando o major Rocha, PM corrupto que comanda uma milícia, deixando sua marca com novo jargão “cada cachorro que lamba a sua caceta”. Depois dessa atuação, Sandro terá com certeza muitas portas abertas.

O Tropa 1, lançado em 2007, dividiu opiniões, considerado por muitos um longa retrógado, e não explorou muito bem cada personagem, além da história limitar-se bastante aos treinamentos do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE). Tropa de Elite 2 é muito melhor do que o filme anterior, tanto nos diálogos quanto no desenvolvimento dos personagens, além do dinamismo e nada sutis ‘tapas na orelha’ de toda sociedade - mostrando que ninguém é inocente, pois todos, sem exceção, permitem ou colaboram para que o sistema engula tudo e todos de maneiras variadas, gananciosas, maldosas e na maioria das vezes cruéis.

Recorde de bilheteria na primeira semana faz Spielberg ficar de olho

Tropa de Elite 2, que estreou em circuito nacional dia 08 de outubro, já bateu todos os recordes de bilheteria e público do País, pois já soma 2,4 milhões de espectadores em apenas uma semana, algo raro de acontecer desde 1991. Tropa 2 deixou para trás fenômenos de bilheteria internacionais, como Homem Aranha 3 (2,7 milhões), A Era do Gelo 3 (2,5 milhões) e Avatar (1,5 milhão). O sucesso é tanto que Steven Spielberg quer comprar os direitos de distribuição de Tropa de Elite 2 nos Estados Unidos.

Nota 10

Assista ao trailer:

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

CINEMA - GENTE GRANDE


Após trinta anos, cinco amigos se reencontraram para o funeral do ex treinador de basquete. Como era feriado, resolveram 'repousar' com seus familiares (filhos, esposas) na mesma casa do lago - onde ficaram quando aconteceu um campeonato na adolescência.

Lendo o primeiro parágrafo alguém pode pensar que se trata de mais um besteirol americano com gostosas, nerds, um time de basquete, piadas sem graça, etc. Sim é um 'blockbuster' ou sessão da tarde com esses ingredientes, mas a comédia “Gente Grande” – produzida por Adam Sandler e Jack Giarraputo - consegue arrancar boas risadas do começo ao fim, principalmente por conter piadas rápidas e bastante humor ácido. É impossível não se identificar pelo menos com uma situação: guerra dos sexos (mostrando que os homens demoram mais tempo pra amadurecer), preconceitos, deboches, travessuras, falar a verdade ou mentira, conflitos familiares.

Todas as cenas são muito bem entrelaçadas e as coisas não param de acontecer, envolvendo a platéia completamente. O único problema é que o longa escorrega do humor para o ‘lenga lenga hollywoodiano’ - lição de moral - que devemos valorizar amizade e família e amor, e que na vida às vezes é necessário perder para ganhar. Dispensável, pra não dizer perda de tempo, para um filme rotulado como comédia e não auto-ajuda.

Boa parte do elenco (Adam Sandler, Rob Schneider, Chris Rock, Kevin James, David Spade, Tim Meadows) consegue passar ao telespectador que está muito à vontade - como se tivesse chegado para gravar do jeito que quisesse, bem natural. Nada robótico ou decorado e muito menos óbvio.

Nota 8,5

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