quinta-feira, 9 de setembro de 2010

NOSSO LAR SE APEGA AOS EFEITOS E PECA EM TEXTOS ROBÓTICOS

Em apenas três dias após a estreia, última sexta-feira (03), “Nosso Lar” já é recorde de bilheteria somando R$6,2 milhões nos cofres da produção brasileira, só perdendo para “Chico Xavier, o filme” – também sobre espiritismo – comparando o mesmo período de tempo após lançamento nos cinemas.

O filme - dirigido e roteirizado por Wagner de Assis (“A Cartomante”) e baseado na obra homônima escrita por André Luiz e psicografada pelo médium Chico Xavier (1944) - conta a história do médico André Luiz que ao morrer conhece a cidade espiritual, mas antes foi apresentado ao umbral (espécie de purgatório). Quando resgatado pelos espíritos de luz aprende a se transformar, evoluir, deixando de lado arrogância e materialismo. Ele busca rever a família terrena, mas a cena mais emocionante é do reencontro com a sua mãe no plano espiritual quando teve permissão – regado a uma trilha sinfônica muito bonita do compositor americano Philip Glass. E durante boa parte do filme é possível reconhecer “Sonata ao luar” de Beethoven.

O longa metragem é rico em efeitos especiais feitos por uma produtora canadense, com fotografia muito bonita dirigida pelo suíço Ueli Steiger, e a construção da cidade foi o maior desafio. "Durante meses, nossa diretora de arte e um grupo de arquitetos se debruçaram sobre esse projeto, que é verdadeiramente arquitetônico. Depois, tudo foi recriado pelo pessoal dos efeitos especiais", disse Iafa Britz (produtora do filme). Realmente é tudo muito bem detalhado, sendo um marco na história do cinema brasileiro que jamais teve uma super produção nesse nível, principalmente em investimento, que chegou a R$20 milhões, sendo o mais caro filme desde a repaginada do cinema tupiniquim que aconteceu nos anos 1990. Muita gente está confundindo o formato da cidade dizendo que é um Pentagrama, mas na verdade é uma estrela de seis pontas, como descrito no livro.

A história é pacata, linear, e algumas vezes narrada (algo que poderia ter sido descartado, pois explica o que o telespectador vê e às vezes irrita), mas compensa pelas belas imagens e mensagens, inclusive algumas filosóficas. Claro que geralmente é impossível reproduzir exatamente o conteúdo de um livro pra telona, mas faltou um pouco de cuidado do roteirista – passando a impressão que não leu o Best Seller – porque misturaram alguns acontecimentos. Outro ponto negativo fica para boa parte das atuações, pois o cinema nacional continua pecando nos textos robóticos fazendo perder a naturalidade dos diálogos entre o elenco. Além disso, Renato Prieto, que interpreta o espírito André Luiz, até então pouco conhecido pelo público de massa, exagera na postura corporal e deixa nítido que ainda está cru para encarar as câmeras, característico de artistas acostumados somente com teatro.

Em um trecho tentam fazer as pazes entre religiões, por exemplo, mostrando as vítimas do Holocausto sendo atendidos no mundo espírita, mas pode ser não muito bem interpretado principalmente pela crença judaica pós-morte que é bem diferente da kardecista. Mas pra quem não está preso a essas crenças todas, pode se emocionar com as cenas, pois o amor ao próximo e a vontade de ajudar são algumas mensagens transmitidas. Outra tentativa de unir as religiões, também em sinal de respeito à liberdade de escolha, é uma das paredes da sala de um ministro com vários símbolos religiosos.

A eterna polêmica é de muitos não acreditarem no espiritismo, mas o filme não força ninguém seguir a religião ou acreditar nela e - mesmo fugindo da realidade (prato cheio para a sétima arte) - a sua mensagem principal é que a vida continua independente da preferência religiosa, pois todos somos espíritos e apenas nos desligamos da matéria quando morremos. Pode até não ser a explicação que satisfaça a todos, mas pra algum lugar nossos espíritos devem ir... NOTA 9,0 [GS]

Trailer