sábado, 29 de novembro de 2008

QUAL A SUA TRIBO?

TRIBALISMOS

Com a rapidez na troca de informações devido à globalização, verificamos que cada vez mais as pessoas precisam se unir em grupos, onde podem conversar sobre os mesmos assuntos. Para isso fomos às ruas e verificamos que há muito mais "tribos" espalhadas por aí, e que cada uma carrega seu DNA em sua essência.

Muitas "tribos" surgem, pois os jovens cada vez mais em sua peculiaridade precisam se inserir em algum grupo e ser aceito por ele. Esse tipo de manifestação se dá pela estética, onde grupos buscam experimentar emoções, participar do mesmo ambiente, dividir os mesmos valores, partilhar coisas em comum, enfim, é a lei da sociedade. Não dá pra ser indivíduo em um mundo com tantas regras.

"Inúmeros exemplos da nossa vida cotidiana podem ilustrar a ambiência emocional que emana do desenvolvimento tribal,..podemos notar que esses exemplos já não espantam mais, já fazem parte da paisagem urbana. As diversas aparências "punk","kiki","paninari" que exprimem muito bem a uniformidade e a conformidade dos grupos, são como outras tantas pontuações do espetáculo permanente que as megalópoles contemporâneas oferecem." (Michel Maffesoli é professor do Centro de Estudos sobre o Atual e o Quotidiano (CEAQ) da Universidade Sorbonne, em Paris) .

Cada uma das tribos, elege um tipo de vestuário, estilo musical, um líder. Esse fenômeno muito atual têm recebido o nome de "tribos urbanas" formadas por indivíduos que buscam seus semelhantes. Baseados no livro "A Parte do Diabo - Resumo da Subversão Pós-Moderna" do sociólogo francês Michel Maffesoli, fizemos entrevistas em São Paulo com frequentadores dos mais variados tipos de "balada". Entraram na roda "ravers"(frequentadores de rave), roqueiros, "jet-setters"(frequentadores das melhores festas e rodas sociais do mundo), micareteiros, "cowboys" e também aqueles que apenas frequentam bares e restaurantes.

Egon Araújo de 24 anos, já atuou como promotor de eventos, mas atualmente evita esse tipo de "balada" e dá preferência a bares e restaurantes. Segundo Egon, grande parte dos jovens freqüenta este tipo de ambiente somente em busca de sexo, embora ele não negue ser um ambiente onde muitos conseguem extravasar o stress do cotidiano. Outro grande problema apontado por ele é o uso abusivo de drogas e álcool, que vem a ser um problema de saúde pública, que só poderá ser solucionado com campanhas para esclarecimento dos jovens. Hoje prefere sair com os amigos para jogar conversa fora, falar sobre futebol, ou qualquer tipo de assunto.

Já Marise Lemos, 26 anos se diz freqüentadora assídua de micareta. Porém não vive para ir em shows de axé, sua seleção parte do público que frequentará o local e quais as bandas que irão tocar, sendo que só vai nas que lhe agrada mais. As pessoas que freqüentam vão com o intuito de extravasar, ou seja, não vão lá para conversarem sobre a vida com os amigos, ou então pedirem conselhos, e sim para aproveitarem o máximo de suas energias positivas. "Normalmente nas micaretas o público é muito animado. Todos estão sempre rindo, pulando, brincando... É uma energia muito boa!". O forte desse tipo de entretenimento não é a melodia da música, pois Marise afirma que as letras não são tão elaboradas, o ritmo é sempre o mesmo, mas o que mais empolga são as pessoas que cantam as músicas como se fossem o "hino de suas vidas". O estigma principal desse tipo de show é o da "pegação", onde os jovens para beijar, mas concorda que o jovem pode chegar e beijar sem limites, mas que só participa da "farra" quem vai com esse ritmo. Mas afirma que a alegria é tão contagiante, que o beijo na boca, torna-se um tipo de cumprimento, uma forma de demonstrar a alegria que está sentindo no momento. Caso contrário, todos se respeitam e nada quebra o clima de alegria que o show atrai.

Lucas Chacon, de 19 anos prefere o clima das raves, "esse tipo de festa atrai muitas pessoas por ter um contexto diferente do que era antes, o de apenas freqüentar lugares fechados, atrai porque é novo", diz ele. Segundo Lucas a música que para muitos parece ser um bate-estaca, não é repetitiva, tem sonoridade e ciclos, o som e o ambiente são os fatores que mais agrada. A liberdade é um dos fatores mais estimulantes para essa galera, os frequentadores desse tipo de festa têm uma filosofia de vida a ser seguida, uma espécie de hippie do século XXI, ou seja, seguem a mesma filosofia de vida dos hippies dos anos 70, porém com sonoridade diferente, afirma ele. "O meu modo de ver a vida, agir, vestir o uso intensivo de alegria, drogas é um problema politico e social, tem em todo lugar, nao é um problema que ocorre em função das raves", disse Lucas ao ser questionado sobre o uso de drogas neste tipo de evento.

Questionador, é assim que Murillo Sguillaro, de 28 anos define um roqueiro. "A identidade do roqueiro é a de questionar as coisas, que não vão pelo padrão, do que ouvir e como se comportar. Um sentimento de atitude, de poder escolher o que quer pra você, uma forma de protesto". Os shows de rock costumam ter um público feminino reduzido, o que atrai o publico é o som. Os roqueiros tendem a ser estigmatizados como rebeldes, e Murillo afirma que não, apenas buscam expressar suas opiniões.

Já o "Agroboy" (expressão usada para definir um jovem que gosta do mundo country) Jorge Kubota, de 23 anos diz que a música sertaneja é critica pela grande maioria dos jovens, "muita gente tem vergonha de mostrar que gosta, mas no fundo todo mundo escuta".
O country voltou à moda, e para um "cowboy" que faz parte desta tribo, mulher, cavalo e caminhonete 4 x 4 são os principais preceitos de sua filosofia de vida, acrescenta ele. “O sertanejo é a música que mais os identifica com seus estilos de vida, ou seja, diferentemente do estilo das pessoas que moram na cidade grande, por isso, muitas vezes rola uma incompreensão”.

O mundo dos ricos e famosos foi contado por Verena Smit, 24 anos relata não se sentir muito à vontade quando frequenta eventos de jet-setters, pois essas festas costumam atrair muitos fotógrafos, e com a presença deles as pessoas costumam se retrair. Já, se a festa é mais reservada, as pessoas são mais espontâneas, já que costumam encontrar amigos e pessoas queridas que devido aos compromissos, não costuma encontrar com muita frequência. Embora tenha muitos amigos, acha esse círculo muito fechado e cheio de preconceitos. É um meio muito pesado, onde a vida do outro importa tanto quanto a sua própria vida, devido a isso que não consigo ser tão espontânea quanto gostaria, "tenho que manter a pose". Mas mesmo tendo que manter a pose, em todos os eventos que vou, sempre têm uma história engraçada para contar, alguém que brigou, bebeu demais, traiu o parceiro. "acho que tem uma hora que não dá pra ficar fazendo "pose" toda hora...".

Em cada entrevista percebemos que todos os jovens querem defender suas tribos, características e ideais, o que todos buscam é se diferenciar da grande massa e se firmar como indivíduos que possuem uma filosofia própria acompanhados de pessoas que buscam os mesmos objetivos. Qual a sua tribo?

Por Ida Kazue

2 comentários:

Gisele Santos - Redação MRC disse...

e eu que sempre fui roqueira , nem tatuagem tenho e nunca me expressei nas roupas minha preferência musical que se tornou também trabalho a anos??
e o murillo precisa conhecer o mundo rock de calcinha, só o show do the donnas entupiu de muié roqueira kkkk
tá bem legal a matéria idoca
bjus

Pedro P. disse...

A idéia de se firmar como um indivíduo dentro de uma determinada tribo me soa contraditória. Os jovens ao entrarem numa determinada tribo tornam-se iguais aos demais membros da mesma e não se individualizam por isso. Esse é o principio de igualdade na diferença. A busca por um grupo pode ser um resposta ao individualismo moderno que atomiza o indivíduo e “corta” seus laços com os demais. Ao entrar numa determinada tribo ele refaz esses laços, mas apenas parcialmente, pois os laços com todo o grupo, conforme ocorre nas comunidades tradicionalmente chamadas de tribos, não pode mais ser refeito. Outro ponto a ser ressaltado é o que o senhor chama de “DNA em sua essência”. Nesse ponto, concordaria contigo se essa afirmação fosse feita tendo em vista os primeiros movimentos da década de 50, que até então não eram chamados de tribos, termo que foi cunhado em 1985 pelo professor Maffesoli. Eles de fato possuíam uma essência. Nesse período, os movimentos eram contestatórios da ordem vigente e isso está na gênese do movimento. Hoje, não necessariamente, há uma contestação e as pessoas, em sua maioria, não se identificam com a ideologia fundadora desse processo e se sentem como numa loja de departamentos onde se escolhe a tribo para se pertencer em determinadas horas. Essas ações descaracterizam toda e qualquer essência que se poderia ter nesse movimento. Nessa época de uma modernidade fluida as identidades são liquidas, para lembrar Baumam. A indústria Cultural subverte o principio das tribos transformado-as em abstrações vendáveis e rentáveis. Sendo assim, as tribos são transformadas em mais um nicho de mercado.
Abraços.