Muitos integrantes de nossa equipe não tinham mais tempo para continuar colaborando com o BOOM, então encerramos atividades e agradecemos muito a todos que sempre nos acompanharam por aqui.
Que a qualidade do cinema nacional melhorou bastante dos anos 1990 pra cá, já sabemos, mas para exterminar qualquer dúvida explodiu em nossas telonas Tropa de Elite 2 - que pode ser considerado o melhor filme tupiniquim de todos os tempos e de encher de orgulho todos os brasileiros que - por outro lado - poderão ficar com nojo dos governantes e boa porte dos policiais do País.
O filme é ótimo não somente pela coragem de denunciar governo, milícias, mídia, mostrando a realidade do Rio de Janeiro que se estende a todo Brasil, mas também pela super produção com cenas de ação tão realistas e dinâmicas jamais antes realizadas por cineastas nacionais. O aguardado Carandiru (2002), baseado no livro de Dráuzio Varella (Estação Carandiru), não teve a mesma coragem, se resumindo em contador dos ‘causos’ de alguns detentos. Tropa de Elite 2, com roteiro de Bráulio Mantovani e José Padilha (também na direção), bate no peito e chama pra briga sem medo, logo no início, com cenas tensas e realistas de uma rebelião em Bangu 1 e o governador do Rio de Janeiro fingindo impedir muitas mortes para não repetir o ocorrido no extinto Carandiru – episódio que ficou marcado na história do País como Massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 homens foram mortos (e muita gente desconfia que o número ultrapassou a esse divulgado oficialmente). Isso tudo e muito mais o filme Carandiru nem sequer encaixou em uma cena ou texto.
Wagner Moura, agora como Coronel, mantém a intensidade da linha ríspida do Capitão Nascimento em Tropa 1 e prova ser um dos melhores atores da atualidade sabendo equilibrar a emoção nas demais nuances, sendo pai, trabalhador, um ser solitário, lutando contra o sistema ao qual – com muita decepção e a duras penas - ele percebe que também pertence. No Tropa 2 Wagner continua com as narrações em off, alinhavando a trama e fisgando o espectador para ser seu cúmplice - sem escorregar no erro de muitas películas que tentam explicar o que o espectador assiste (bem irritante por sinal).
Outro destaque no elenco é Sandro Rocha, que num passado não muito distante atuava como palhaço Ronald McDonald em eventos promocionais da conhecida rede de lanchonetes. Sandro, que tinha conseguido uma ponta no primeiro filme e ficou conhecido pela frase “quem quer rir, tem que fazer rir”, ganhou mais espaço e mostrou a que veio no Tropa 2, interpretando o major Rocha, PM corrupto que comanda uma milícia, deixando sua marca com novo jargão “cada cachorro que lamba a sua caceta”. Depois dessa atuação, Sandro terá com certeza muitas portas abertas.
O Tropa 1, lançado em 2007, dividiu opiniões, considerado por muitos um longa retrógado, e não explorou muito bem cada personagem, além da história limitar-se bastante aos treinamentos do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE). Tropa de Elite 2 é muito melhor do que o filme anterior, tanto nos diálogos quanto no desenvolvimento dos personagens, além do dinamismo e nada sutis ‘tapas na orelha’ de toda sociedade - mostrando que ninguém é inocente, pois todos, sem exceção, permitem ou colaboram para que o sistema engula tudo e todos de maneiras variadas, gananciosas, maldosas e na maioria das vezes cruéis.
Recorde de bilheteria na primeira semana faz Spielberg ficar de olho
Tropa de Elite 2, que estreou em circuito nacional dia 08 de outubro, já bateu todos os recordes de bilheteria e público do País, pois já soma 2,4 milhões de espectadores em apenas uma semana, algo raro de acontecer desde 1991. Tropa 2 deixou para trás fenômenos de bilheteria internacionais, como Homem Aranha 3 (2,7 milhões), A Era do Gelo 3 (2,5 milhões) e Avatar (1,5 milhão). O sucesso é tanto que Steven Spielberg quer comprar os direitos de distribuição de Tropa de Elite 2 nos Estados Unidos.
Após trinta anos, cinco amigos se reencontraram para o funeral do ex treinador de basquete. Como era feriado, resolveram 'repousar' com seus familiares (filhos, esposas) na mesma casa do lago - onde ficaram quando aconteceu um campeonato na adolescência.
Lendo o primeiro parágrafo alguém pode pensar que se trata de mais um besteirol americano com gostosas, nerds, um time de basquete, piadas sem graça, etc. Sim é um 'blockbuster' ou sessão da tarde com esses ingredientes, mas a comédia “Gente Grande” – produzida por Adam Sandler e Jack Giarraputo - consegue arrancar boas risadas do começo ao fim, principalmente por conter piadas rápidas e bastante humor ácido. É impossível não se identificar pelo menos com uma situação: guerra dos sexos (mostrando que os homens demoram mais tempo pra amadurecer), preconceitos, deboches, travessuras, falar a verdade ou mentira, conflitos familiares.
Todas as cenas são muito bem entrelaçadas e as coisas não param de acontecer, envolvendo a platéia completamente. O único problema é que o longa escorrega do humor para o ‘lenga lenga hollywoodiano’ - lição de moral - que devemos valorizar amizade e família e amor, e que na vida às vezes é necessário perder para ganhar. Dispensável, pra não dizer perda de tempo, para um filme rotulado como comédia e não auto-ajuda.
Boa parte do elenco (Adam Sandler, Rob Schneider, Chris Rock, Kevin James, David Spade, Tim Meadows) consegue passar ao telespectador que está muito à vontade - como se tivesse chegado para gravar do jeito que quisesse, bem natural. Nada robótico ou decorado e muito menos óbvio.
Em apenas três dias após a estreia, última sexta-feira (03), “Nosso Lar” já é recorde de bilheteria somando R$6,2 milhões nos cofres da produção brasileira, só perdendo para “Chico Xavier, o filme” – também sobre espiritismo – comparando o mesmo período de tempo após lançamento nos cinemas.
O filme - dirigido e roteirizado por Wagner de Assis (“A Cartomante”) e baseado na obra homônima escrita por André Luiz e psicografada pelo médium Chico Xavier (1944) - conta a história do médico André Luiz que ao morrer conhece a cidade espiritual, mas antes foi apresentado ao umbral (espécie de purgatório). Quando resgatado pelos espíritos de luz aprende a se transformar, evoluir, deixando de lado arrogância e materialismo. Ele busca rever a família terrena, mas a cena mais emocionante é do reencontro com a sua mãe no plano espiritual quando teve permissão – regado a uma trilha sinfônica muito bonita do compositor americano Philip Glass. E durante boa parte do filme é possível reconhecer “Sonata ao luar” de Beethoven.
O longa metragem é rico em efeitos especiais feitos por uma produtora canadense, com fotografia muito bonita dirigida pelo suíço Ueli Steiger, e a construção da cidade foi o maior desafio. "Durante meses, nossa diretora de arte e um grupo de arquitetos se debruçaram sobre esse projeto, que é verdadeiramente arquitetônico. Depois, tudo foi recriado pelo pessoal dos efeitos especiais", disse Iafa Britz (produtora do filme). Realmente é tudo muito bem detalhado, sendo um marco na história do cinema brasileiro que jamais teve uma super produção nesse nível, principalmente em investimento, que chegou a R$20 milhões, sendo o mais caro filme desde a repaginada do cinema tupiniquim que aconteceu nos anos 1990. Muita gente está confundindo o formato da cidade dizendo que é um Pentagrama, mas na verdade é uma estrela de seis pontas, como descrito no livro.
A história é pacata, linear, e algumas vezes narrada (algo que poderia ter sido descartado, pois explica o que o telespectador vê e às vezes irrita), mas compensa pelas belas imagens e mensagens, inclusive algumas filosóficas. Claro que geralmente é impossível reproduzir exatamente o conteúdo de um livro pra telona, mas faltou um pouco de cuidado do roteirista – passando a impressão que não leu o Best Seller – porque misturaram alguns acontecimentos. Outro ponto negativo fica para boa parte das atuações, pois o cinema nacional continua pecando nos textos robóticos fazendo perder a naturalidade dos diálogos entre o elenco. Além disso, Renato Prieto, que interpreta o espírito André Luiz, até então pouco conhecido pelo público de massa, exagera na postura corporal e deixa nítido que ainda está cru para encarar as câmeras, característico de artistas acostumados somente com teatro.
Em um trecho tentam fazer as pazes entre religiões, por exemplo, mostrando as vítimas do Holocausto sendo atendidos no mundo espírita, mas pode ser não muito bem interpretado principalmente pela crença judaica pós-morte que é bem diferente da kardecista. Mas pra quem não está preso a essas crenças todas, pode se emocionar com as cenas, pois o amor ao próximo e a vontade de ajudar são algumas mensagens transmitidas. Outra tentativa de unir as religiões, também em sinal de respeito à liberdade de escolha, é uma das paredes da sala de um ministro com vários símbolos religiosos.
A eterna polêmica é de muitos não acreditarem no espiritismo, mas o filme não força ninguém seguir a religião ou acreditar nela e - mesmo fugindo da realidade (prato cheio para a sétima arte) - a sua mensagem principal é que a vida continua independente da preferência religiosa, pois todos somos espíritos e apenas nos desligamos da matéria quando morremos. Pode até não ser a explicação que satisfaça a todos, mas pra algum lugar nossos espíritos devem ir... NOTA 9,0 [GS]
E ontem mesmo foi lançado o vídeo do novo sucesso de Lady Gaga, “Alejandro”. A música já vinha recebendo destaque, mas hoje foi o fim da picada, à meia-noite, ter quase meio milhão de acessos no Youtube. Muitas opiniões divergem sobre o teor do vídeo, mas há um consenso, mesmo que não admitido por parte de quem odiou o clipe, que Gaga sabe mesmo como chamar a atenção.
É praticamente inviável comentar a música sem falar um pouco de Lady Gaga enquanto artista. Boa parte da crítica deve discordar de mim, e uma parte assinaria embaixo. Gaga hoje, em minha opinião é o sinônimo para dois termos: gênio musical e rainha do pop. Ela não é “meramente” diva-freak-melancia-no-pescoço. Ela não é “apenas” mais uma performer.
Gostaria apenas de lembrá-los que o campo do meu conhecimento mais amplo e o do meu gosto mesmo é o metal e suas vertentes.
Sim, caro leitor, você está lendo uma crítica de um vídeo da Lady Gaga escrito por uma headbanger. E eu consigo dizer no melhor estilo twitter que Gaga é “troo”.
Ninguém aqui está dizendo que ela é totalmente original. Mas a originalidade dela está em assumir suas influências, em expressar-se sem medo de censura, em ser na sua essência uma verdadeira artista. Ela não é nem um pouco modesta quando fala de si e de suas idéias, mas a forma gentil, pausada e de voz mansa com a qual ela fala deixa qualquer um sem palavras, a saber: de MTV à Oprah e Larry King. Ou se quiser ir mais longe, cito a Rainha Mãe, porque até mesmo ela rendeu-se ao poder de Lady Gaga.
Uma artista totalmente calculada, Gaga admite isso nas suas entrevistas e, pessoalmente, eu acho brilhante. Ela atinge seu público-alvo e ultrapassa os limites, sendo extremamente popular entre as massas. Isso porque, como eu disse lá no começo, ela sabe como chamar a atenção: seus fãs fiéis, que compreendem sua forma de arte, acham absolutamente brilhante, conseguem interpretar cada letra e vídeo de maneira profunda. Os populares acreditam que sua extravagância é pelo menos interessante e os tira do marasmo do dia-a-dia, nem que seja para chocar-se com oito minutos de “Alejandro”.
UMA ANÁLISE BREVE DO VÍDEO “ALEJANDRO”
Como Lady Gaga é uma artista completa (escreve suas músicas, desenha seu figurino, dirige seus próprios vídeos, e todas as grandes performances são idéias da sua própria cabeça), é claro que ela deixa boa parte de sua mensagem para o visual.
Mas o clipe de “Alejandro” deve ser visto acompanhado do entendimento básico sobre a letra. A música é dirigida e uma espécie de lembrança ao público gay.
E há várias formas de encarar o tal Alejandro. Após alguma energia gasta nessa reflexão, eu digo que minha interpretação favorita de Alejandro é que ele representa a figura da homossexualidade, implorando para ser assumida de alguma forma. A primeira pessoa da narração então é um “reprimido”, alguém que não o pode assumir em público com medo “dela” – a censura, a repressão, a violência da sociedade que ainda não aceita a homossexualidade com mais naturalidade, e sim a tolera apenas. Sim, é preciso desconstruir de maneira apropriada para entender a música. Faça o exercício e você encontrará várias outras formas de interpretar a música, mas a mensagem final será a mesma.
Para o vídeo, é redundante dizer – porque isso é explícito – que Gaga faz uso da influência que sofreu de Madonna (a atmosfera da música mesmo lembra “La Isla Bonita”). A maquiagem, os cabelos curtos, o batom vermelho marcado, a forma tranqüila do semblante ao cantar. Referências à igreja, o terço, bem no melhor estilo de “La Isla Bonita”. Alguns toques de MJ também são perceptíveis como o uso de marcha dos soldados.
Mas o que muitos em menos de 24 horas de vídeo no ar disseram sobre “não entender” a mensagem, aí me desculpe, é pura preguiça. Uma vez compreendida a letra, o resto fica fácil: a igreja católica ainda hoje é uma das maiores forças contra a homossexualidade. A referência a “soldados” é óbvia sobre o preconceito dentro de qualquer exército.
O elemento “sado masoquista” do vídeo fala da repressão ao homossexualismo, além de evidenciar uma das muitas formas de se fazer sexo. Homens todos iguais, de salto alto, na cama... Fantasias reprimidas! O conceito é amplo.
A fotografia faz o vídeo ficar especialmente dramático. As sobrancelhas de Gaga loiras, dando essa forma mais andrógena ao rosto, dão mais valor ainda ao vídeo. Ela é jogada numa roda de homens iguais, mesmo corte de cabelo, representa a massa que joga o “problema” da homossexualidade para os outros e uns contra os outros. E digo mais: quem tem um preconceito com ela por fazer bem ao público GLS, pense duas vezes.
Porque sangue de Lady Gaga tem poder! E lá vem a Igreja e os moralistas censurando o vídeo em 5, 4, 3... Com vocês, ALEJANDRO... Oh, Alejandro!
Para conhecer a letra e a tradução de "Alejandro", clique aqui.