sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

PARANAPIACABA: UMA VILA FERROVIÁRIA INGLESA PARA SE VISITAR EM SÃO PAULO

Exposição fotográfica homenageia a vila neste final de semana


Gustavo Dittrichi

Quando os índios subiam a Serra do Mar rumo ao planalto, passavam por um caminho íngreme, de onde, em dias claros, era possível avistar um horizonte remotíssimo. Por isso, nomearam a região de “paranã apiaca aba”, traduzido do tupi-guarani, “lugar de onde se vê o mar”. Sem saber, estavam nomeando o local onde, mais tarde, seria construída uma estrada de ferro que daria origem a um dos poucos monumentos nacionais existentes em São Paulo: a Vila de Paranapiacaba.

Construída no século 19 por engenheiros ingleses, em meio à nativa Mata Atlântica da Serra do Mar, Paranapiacaba, originalmente uma vila ferroviária, caracteriza-se como um raro ambiente onde natureza, arquitetura e tecnologia de transporte se integram em harmonia, constituindo um museu dinâmico ao ar livre.

É em homenagem à vila e à ferrovia paulista que o fotógrafo Adauto Rodrigues, ex-ferroviário e nascido em Paranapiacaba, organizou uma mostra fotográfica comemorativa dos 142 anos da ferrovia paulista, que nasceu em 16 de fevereiro de 1867 com a São Paulo Railway, trazida pelos ingleses. Adauto, que possui um acervo de cerca de 30 mil fotos, vai expor 500 delas no Clube União Lyra Serrano, em Paranapiacaba, no próximo final de semana (dias 14 e 15 de fevereiro), das 10h às 18h. O evento é gratuito e contará, além das fotografias de 30x40cm e 50x60cm, com apresentação audiovisual, entre outras atividades, como exposição de revistas. “Quero trabalhar com a imagem”, explicou o fotógrafo. “É uma linguagem que as pessoas ‘lêem’ mais do que o texto”. Para Adauto, o grande trunfo de seu trabalho é o resgate à memória. “Minha intenção sempre foi divulgar a vila. Existe uma necessidade de não só se trabalhar com o patrimônio concreto, físico, mas também de despertar a memória através da documentação”, assinala.

Paranapiacaba não encanta somente ao fotógrafo Adauto Rodrigues. Tanto é que o distrito ferroviário lançou sua candidatura a Patrimônio Cultural da Humanidade, título concedido pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e a Cultura). A cerimônia de lançamento ocorreu em 27 de junho de 2007, em Santo André, município do qual Paranapiacaba faz parte, desde 2002. A vila já é tombada, desde 1987, pelo órgão estadual Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) e desde 2002 pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

A história do local está diretamente ligada ao desenvolvimento da ferrovia paulista. Com a expansão do plantio e comércio de café pelo Brasil, especialmente no interior oeste do estado de São Paulo, tornou-se urgente encontrar um meio de escoar a produção com maior facilidade para o Porto de Santos. O mercado no exterior era certo, mas o produto levava dias de viagem, sob precárias condições, em tropas de mulas até o litoral. Em franca expansão na Europa, a ferrovia seria a solução ideal para este problema.

Assim, surgiu a São Paulo Railway (SPR), popularmente conhecida como Ingleza, por intermédio do decreto imperial n° 1.759, de 26 de abril de 1856, que autorizava a incorporação de uma companhia para a construção de uma estrada de ferro entre Santos e Jundiaí. Graças ao seu espírito empreendedor, Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, conseguiu capital necessário junto a cafeicultores e banqueiros ingleses. Em 1860, começaram as obras de construção da SPR, que tinha como principal desafio ultrapassar cerca de 800 metros de altitude da Serra do Mar. Como solução, os engenheiros ingleses adotaram o sistema funicular (onde máquinas fixas a vapor tracionavam as composições através de cabos de aço), aplicado para vencer grandes rampas, que não podem ser superadas pela simples aderência entre rodas e trilhos.


Em 1867, foi fundada a estação Alto da Serra (mais tarde nomeada Paranapiacaba), último ponto antes da descida para o litoral. Lá, foi instalado o maquinário responsável pela tração dos trens. Durante o processo de construção da SPR, a vila de Paranapiacaba (na época chamada de Alto da Serra, assim como a estação) era inicialmente apenas um acampamento de operários. Com o início da operação, houve a necessidade de se fixar parte deles no local para cuidar da manutenção do sistema.

Com a característica arquitetura inglesa, herdada dos magnatas da ferrovia, a vila era bem cuidada, com ruas arborizadas e casas pintadas. Os pontos de encontro importantes eram a estação – que somente em 1945 passou a se chamar Paranapiacaba, assim como o local – e o clube União Lyra Serrano, centro de intensa atividade sócio-cultural, como bailes, jogos de salão e competições esportivas. Às vezes, pode-se considerar a vila um decalque exato das vilas similares inglesas: até a neblina, em alguns dias, está lá presente, contribuindo para criar o clima típico inglês.

Em janeiro de 1981, um incêndio destruiu o prédio da antiga estação. Uma nova estação foi levantada e o relógio, único ponto salvo do fogo, foi consertado e levado para uma nova torre, ao lado do prédio novo.

Com o surgimento da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) em 1992, a Vila de Paranapiacaba passou a ser atendida pelos trens metropolitanos, integrando a Linha D (Luz-Rio Grande da Serra, atual Linha 10-Turquesa), até 2001, quando o trecho entre Rio Grande da Serra e Paranapiacaba foi desativado, sendo usado apenas pela MRS Logística para transporte de carga.

Hoje, a vila de Paranapiacaba é atração turística e ponto histórico, fazendo de seu passeio uma viagem pela história de São Paulo, do café, da presença inglesa no desenvolvimento sócio-econômico e, claro, da ferrovia.

Patrimônio Mundial da Humanidade

No dia 27 de junho de 2007, a Prefeitura de Santo André lançou a candidatura de Paranapiacaba a Patrimônio Mundial da Humanidade, pela Unesco. Além de ser o primeiro patrimônio industrial brasileiro a ser indicado – o Brasil possui 17 locais na lista, 10 culturais e 7 naturais –, é também o primeiro patrimônio ferroviário.

Para tanto, a prefeitura está investindo na infra-estrutura da cidade, visto que a Unesco exige garantia de preservação e desenvolvimento sustentável da vila. A recuperação do distrito está sendo trabalhada em 4 frentes: turismo sustentável, conservação ambiental, desenvolvimento social e preservação do patrimônio cultural.

Para ser aceita como candidata e ser eleita, a Unesco faz uma análise bem complexa, mas basicamente exige que sejam destacados os valores universais que fazem de Paranapiacaba um patrimônio mundial.

Está sendo criado um plano de desenvolvimento para Turismo Sustentável, além da implantação do programa de qualificação dos serviços turísticos prestados. Oitenta monitores culturais e ambientais também foram cedidos pela prefeitura. Com um investimento de R$ 7,5 milhões, Paranapiacaba está recebendo uma série de planos para adequá-la às condições da Unesco.

Turismo

A Vila também é centro de visitação e turismo. Por isso, além de diversos pontos turísticos, conta com cerca de 15 pousadas, hotéis ou hospedarias, 20 restaurantes, 10 bares e lanchonetes e 15 ateliês de artesanatos. Alguns pontos turísticos e históricos não podem deixar de ser visitados ao se passar por Paranapiacaba. Veja os principais pontos e monte seu roteiro.

Roteiro Cultural e Museológico


Museu Tecnológico Ferroviário: também chamado “Museu Funicular”, a atração principal são os maquinários que compunham o sistema funicular, utilizado para fazer a tração dos trens de viagem que desciam ou subiam a serra através do sistema de tração de cabos. As máquinas com enormes estruturas, muito bem preservadas, são impressionantes. O museu ainda mantém as duas locomotivas que engatavam no cabo de aço e puxavam a composição – a serra-breque e a loco-breque. No final do museu, existe uma guarita elevada, de onde é possível ver o município de Cubatão.
Local: Pátio Ferroviário
Horário de funcionamento: terça-feira a domingo, das 10 às 16 horas.
Ingressos: R$ 2.

Museu Castelinho: restaurado em 2005, hoje abriga peças da ferrovia e a memória social da vila. Também apresenta uma exposição permanente com acervo da casa do engenheiro-chefe da SPR, com mobiliário, quadros e relógios, uma maquete física de toda a Vila, cinco tótens instalados no piso superior com fotos da vista das janelas do Museu Castelo, aproveitando a posição estratégica da construção, além de banners distribuídos por todas as salas que contam a história da implantação da Vila Ferroviária.
Local: Rua Caminho dos Mendes, s/nº
Horário de funcionamento: terça a sexta-feira das 11 às 16 horas, e aos sábados, domingos e feriados das 9 às 17 horas.
Ingressos: R$ 2.

Clube União Lyra Serrano: foi uma das últimas construções inglesas, erguida por volta de 1936. Possuía um salão principal que servia para sala de cinema, quadra de esportes e salão de baile, com camarotes apropriados ao alto escalão da SPR. Possui atualmente uma exposição que aborda o patrimônio sócio-cultural, com um acervo de aproximadamente 400 troféus das décadas de 1920 a 1990, duas mesas de sinuca, mesas de gamão, e painéis fotográficos com imagens selecionadas e registradas a partir de eventos sociais e culturais no decorrer dos anos, e que expressam os costumes e a dinâmica da comunidade local.
Local: Rua Antônio Olintho, s/nº
Horário de funcionamento: terça a sexta-feira, das 9h às 16h e aos sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h.
Ingressos: Entrada gratuita.


Centro de Documentação em Arquitetura e Urbanismo de Paranapiacaba: O CDARQ funciona em um conjunto de quatro residências casa tipo E, e abriga uma exposição permanente sobre formação urbana da Vila, seu patrimônio arquitetônico e a tecnologia construtiva em madeira. Painéis e maquetes destrincham o sistema construtivo, quase todo em madeira, e as características arquitetônicas das diversas tipologias.
Local: Avenida Campos Sales, s/nº
Horário de funcionamento: terça a sexta-feira, das 9h às 16h e aos sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h.
Ingressos: Entrada gratuita.

Centro de Visitantes do Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba: é o espaço para recepção dos turistas. Instalado em uma antiga casa de engenheiro, o espaço conta com cinco salas com maquete do parque, fotos, jogos interativos, exposições sobre flora e fauna, brinquedoteca temática (sobre meio ambiente), sala de vídeo/treinamento, além de oficina para cursos de reciclagem com papel e outros materiais.
Local: Rua Rodrigues Alves, 473 A
Tel: (0xx11) 4439-0231
Horário de funcionamento: terça a sexta, das 9h às 16h e aos sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h.
Ingressos: Entrada gratuita.

Passeio de Maria-Fumaça: outra atração para quem visita Paranapiacaba. A linha turística, operada pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), com apoio da Prefeitura e a MRS Logística, funciona aos sábados, domingos e feriados, percorrendo um trecho de um Km dentro da área do Museu Ferroviário. Não é apenas um passeio: os condutores estão uniformizados e caracterizados, tudo para recriar a época e a atmosfera inglesa, conduzindo o turista a uma viagem no tempo.
Local: Museu Tecnológico Ferroviário
Tel: (0xx11) 6692-2949 / 6695-1151Horário de funcionamento: Sábados e Domingo das 10 às 16 horas.
Ingressos: R$ 5.

Edifícios Históricos

Igreja Bom Jesus de Paranapiacaba: O principal marco referencial na paisagem da Parte Alta, a Igreja Bom Jesus de Paranapiacaba, foi construída por volta de 1889.

Torre do Relógio: A torre de relógio foi erguida em meados de 1898 e tem como grande característica o grande relógio da marca Johnny Walker, de Londres. Suas badaladas regulavam os horários dos trens e a entrada e saída dos funcionários da ferrovia. Trata-se do único monumento que restou após o incêndio da estação de trem de Paranapiacaba. A construção foi restaurada em 2003.

Antigo Mercado: O antigo mercado foi construído em 1899 para abrigar um empório de secos e molhados, e posteriormente, uma lanchonete. Após muitos anos fechado, foi restaurado pela Prefeitura de Santo André e tornou-se um centro multicultural.

Campo de Futebol: Segundo relatos, em 1894 um funcionário da SPR jogou sua 1ª partida de futebol no Brasil. Seu nome, Charles Miller e, assim foi introduzida a paixão nacional em meio a uma vila inglesa na Serra do Mar. Este campo presenciou, além da 1ª partida, várias outras do Serrano Atlético Clube contra times grandes como Santos, Corinthians, entre outros.

Ecoturismo

Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba: é uma Unidade de Conservação com 4.261.179,10m² de remanescentes de Mata Atlântica no entorno da histórica vila de Paranapiacaba. Pela proximidade da Serra do Mar, por seu clima, com a neblina típica, e pelas suas belezas naturais, o PNMNP possui potencial para atividades voltadas para o uso público, como esportes na natureza, caminhadas em trilhas, estudo de meio, interpretação, recreação e educação ambiental. Atualmente o parque possui 5 trilhas abertas a visitação e dois Núcleos de Interpretação Ambiental.
Horário de funcionamento: terça a domingo, das 9h às 17h. As visitas só podem ser realizadas com o acompanhamento de monitores cadastrados.

Crédito das fotos
Site da Prefeitura de Santo André
(*) Fotos retiradas do livro “De Santos a Jundiaí: nos trilhos do café com a São Paulo Railway”, de Maria Inês Dias Mazzoco.
FONTE: Assessoria de Imprensa CPTM, Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Sto. André, Site da Prefeitura de Sto. André

3 comentários:

0ooALEoo0 da silva sauro ximba disse...

UM LOCAL MUITO BONITO MESMO E CHEIO DE HISTORIA!!!

BACANA MESMOOOO!!!!

Gustavo Dittrichi disse...

Pois é, o texto está gigantesco, mas não tinha como falar do local sem contar a história e mencionar todos os pontos turísticos! =D
Quem sabe o BOOM não vai lá gravar uma matéria em vídeo? ;D

Jongo de Piquete disse...

Bela reportagem sobre a vila.

Dias 29, 30 e 31 de maio estaremos realizando o II MEGA MEETING do fotografia do FriendS que possue mais de 1300 afiliados de todo Brasil.

O evento terá exposições, palestras, encontros e oficinas gratuitas.

Maiores informações em http://megameeting2009.wordpress.com/